Eu, modo de usar
“Pode invadir
Ou chegar com delicadeza
Mas não tão devagar que me faça dormir
Não grite comigo, tenho o péssimo hábito de revidar
Acordo pela manhã com ótimo humor
Mas permita que eu escove os dentes primeiro
Toque muito em mim
Principalmente nos cabelos
E minta sobre minha nocauteante beleza
Tenho vida própria
Me faça sentir saudades
Conte algumas coisas que me façam rir
Viaje antes de me conhecer
Sofra antes de mim para reconhecer-me
Acredite nas verdades que digo
E também nas mentiras, elas serão raras e sempre por uma boa causa
Respeite meu choro
Me deixe sozinha
Só volte quando eu chamar
E não me obedeça sempre que eu também gosto de ser contrariada
Então fique comigo quando eu chorar, combinado?
Seja menos forte que eu e menos altruísta
Não se vista tão bem
Gosto de camisa para fora da calça
Gosto de braços
Gosto de pernas
E muito de pescoço
Reverenciarei tudo em você que estiver a meu gosto: boca, cabelos, cheiros, olhos, mãos…
Leia, escolha seus próprios livros, releia-os
Odeie a vida doméstica e os agitos noturnos
Seja um pouco caseiro e um pouco da vida
Não goste tanto de boate que isto é coisa de gente triste
Não seja escravo da televisão, nem xiita contra
Nem escravo meu
Nem filho meu
Nem meu pai
Escolha um papel para você que ainda não tenha sido preenchido e o invente muitas vezes
Me enlouqueça uma vez por mês
Mas me faça uma louca boa
Uma louca que acha graça em tudo que rime com louca: loba, boba, rouca, boca…
Goste de música e de sexo
Goste de um esporte não muito banal
Não invente de querer muitos filhos
Me carregar para missa, apresentar a família, isso a gente vê depois, se calhar
Deixa eu dirigir seu carro, que você adora
Quero ver você nervoso, inquieto
Olhe para outras mulheres
Tenha amigos que se tornem meus amigos e digam muitas bobagens juntos
Me conte seus segredos
Me faça massagem nas costas
Não fume
Beba
Chore
Eleja algumas contravenções
Me rapte!
Se nada disso funcionar…
Experimente me amar!”
Martha Medeiros