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A Droga Da Felicidade
Em meio a tanto caos que cerca nossas vidas, o número de pessoas fazendo tratamentos psiquiátricos pra X transtornos mentais é indubitavelmente maior. Com esse aumento vem também o crescimento do julgamento, já que as informações não se proliferam proporcionalmente como o número de pacientes, infelizmente. Acredito que nos últimos anos a venda de antidepressivos – para enxaquecas, ansiedade, depressão, etc – tenha gerado um lucro enorme para o comércio farmacêutico e trouxe consigo a ilusão de serem a causa da felicidade, o que foge totalmente da realidade – então bora bater um papo sobre isso?
Posso dizer com muita certeza que a sertralina – medicamento que eu tomo – e outros antidepressivos não trazem felicidade nenhuma, o que acontece de verdade é que ela ajuda a regular os nossos neurotransmissores. Essa regulagem também não é a causa da felicidade, mas é o começo para voltarmos a reconhecê-la – assim como outros sentimentos.
Vamos pensar na nossa mente como um computador e nossos sentimentos são programas que instalamos e rodamos neles. Em certos momentos da nossa vida, nosso software pode estar incompatível com o programa felicidade.exe e, a partir daí, podemos ou passar normalmente por isso – em uma mente sem nenhum transtorno, os neurotransmissores atualizariam o software sozinhos para que tal programa voltasse a rodar – ou precisamos que um técnico (psiquiatra) entre com processos de atualização (medicação). O programa está ali tanto quanto a felicidade está em nossas vidas mas, às vezes, nossa mente se torna incapaz de reconhecê-la e senti-la, por isso deixamos de aproveitar coisas que antes nos traziam tantas alegrias.
O que a medicação faz em nossa mente não é a instalação de programas, mas sim uma atualização para a compatibilidade de nossos sentimentos com a nossa cabeça. Muitas vezes nossa mente chega num ponto onde se torna incompatível com qualquer sentimento – não há felicidade, raiva, tristeza, nada – o máximo que se pode definir disso é a indiferença e cá trazemos mais uma prova que esses remédios não são drogas de felicidade, já que com eles nós voltamos a sentir tudo – até as coisas negativas, e está tudo bem com isso.
Assim como um computador precisa de diversos programas pra rodar nós também precisamos. A vida num todo é feita de puro equilíbrio – luz e sombras, doce e sal, bem e mal – e nós precisamos ter de tudo um pouco para mantê-lo. É claro que ninguém gosta de ficar mal, mas o mal também é necessário por diversas razões, seja para aprender algo ou valorizar o bem, nós precisamos disso. Eu mesma já falei sobre a necessidade que temos de nos frustrar e isso também se encaixa aqui – muito bem por sinal. A vida não é um mar de rosas e nem um labirinto de espinhos – ela é um jardim onde há sol e tempestades, flores e espinhos, vida e morte – equilíbrio.
Para aqueles que necessitam destes remédios – já em tratamento ou vão começar – não se enganem pensando que os antidepressivos são drogas de felicidade, a ilusão disso pode trazer recaídas e quedas que tornarão seu caminho mais difícil. Encare os medos das suas tristezas e frustrações, saiba que da mesma forma que elas chegaram, elas também se vão. Compreenda o equilíbrio da vida e a necessidade dos momentos ruins e, desta forma, eles se tornarão cada vez menores dentro da sua própria perspectiva.
Para aqueles que convivem com quem precisa das medicações, também não se enganem e não cobrem uma vida 100% feliz só porque alguém toma antidepressivos. Se a sua vida não é perfeita, porque a de outro alguém deveria ser? Respeite os momentos de dor e tristeza – a empatia é a chave de tudo. Também deixem os julgamentos de lado, não é porque alguém precisa de um comprimido para passar por alguns momentos que as alegrias dele é falsa ou de menos valor que a sua. Gosto de pensar na depressão como diabetes – a sertralina como a insulina. A absorção do açúcar de um diabético que toma insulina não é pior que a de alguém saudável, assim, a felicidade de quem toma antidepressivos também não é pior que a daqueles que não o tomam.
Como dito aí em cima: a empatia é a chave para relações de respeito e prosperidades. Você jamais saberá com certeza tudo o que o outro passa – e ninguém jamais saberá o que você enfrentou – então é hora de entender sem julgar. Aprender. Respeitar.