A Primeira Vez Que Eu Surtei
Hoje eu tive meu primeiro surto. Hoje eu me deixei gritar, jogar tudo por aí, chorar e libertar meus pensamentos de cabeça quente. Hoje eu gritei, disse que ia matar alguém enquanto jogava meu caderno contra a parede – e só não joguei o celular porque é novo ainda. Hoje eu estava sozinha em casa surtando brutalmente por algo inútil, que não merecia nem 1/10 da raiva que emanava de mim. Hoje eu me vi explodir de raiva como nunca me imaginei fazer.
Hoje eu não achava a carteirinha do ônibus, ela sumiu do único lugar em que devia estar. As lágrimas não se permitiam ser presas. Os gritos? Muito menos. Hoje eu estava sozinha em casa e explodi como se estivesse só em todo nosso universo. Hoje eu senti o alívio que é expor toda essa adrenalina. Hoje eu quis quebrar tudo e, por sorte, tinha alguns objetos em mãos pra jogar na parede. Hoje eu não quebrei nada além da barreira entre meu ego e superego e me deixei esvair por alguns instantes.
Hoje eu quis quebrar o mundo e tudo que se relacionasse a ele, senti que nada nem ninguém poderia conter todas as explosões de sentimento que sentia em meu peito. Hoje eu me aliviei de todas as TPM’s que me prendi, dos choros que guardei, dos gritos que não dei.
Hoje eu estava sozinha, sem perigo de machucar ninguém – fosse por algo físico ou por meras palavras – hoje eu soltei meus instintos e vi o mundo com novos olhos – os olhos de alguém sem limites sociais. Pude ver e sentir o mundo como um predador que caça sua primeira presa, pude me abster de todas as correntes que um dia me prenderam e – mesmo que por apenas alguns instantes – me senti realmente livre.
Na hora, dominada por uma onda de sentimentos negativos, quis explodir junto com tudo o que sentia e alguns minutos depois – entre lágrimas e a bagunça formada no quarto – desisti dos objetivos da noite como se nada mais pudesse dar certo no mundo. Após o grande BUM de adrenalina, caí em prantos na cama como se meu mundo inteiro fosse ser destruído após minha falta na faculdade. Não que precisasse fazer muito sentido já que, naquele ponto pós tchakabum, nada mais fazia sentido – eu mesma não sabia porque havia feito tanto escândalo.
Com tantas coisas jogadas entre os tacos do chão do quarto, o sentimento de impotência me dominava e de tudo eu já havia desistido. Não sendo o bastante, a única pessoa que poderia saber onde minha ben(mal)dita carteirinha se encontrava, tinha o telefone impossibilitado de receber ligações. Minha mãe teimava em me mandar ficar calma e se recusava a me deixar sair do telefone com a rapidez que eu desejava – eu só queria avisá-la e me livrar novamente para chorar em paz.
O desfecho disso tudo? Eu, por fim, achei a ben(mal)dita da carteirinha em um lugar em que demorei para procurar – onde ela não deveria estar – e celebrei muito o atraso do ônibus. Porém meu estresse não poderia terminar aí. Sorte a minha ter surtado antes, sozinha. Os próximos estresses foram muito mais fáceis de lidar depois de ter tido um ataque presa no meu quarto.
A moral disso tudo? Boa pergunta, acho que foi um aprendizado – com muita sorte – sobre guardar os bad feelings por tanto tempo e ver que, por melhores que nós possamos tentar ser, todos temos um limite e este pode estourar de uma forma que jamais esperaríamos. Eu dei a sorte de ter um momento destes sem grandes desastres – além das consequências de um alto nível de estresse pelo resto da noite – e sem prejudicar ninguém ao meu redor, mas nem sempre podemos contar com a sorte do destino, não é mesmo?
Quem mais já passou por algo parecido? Tem dicas pra ajudar os coleguinhas que podem – ou não – passar por algo assim? Deixa aqui nos comentários pra ajudar o mundo a ser menos estressante e mais amorzinho!